quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O PERFIL DO BIBLIOTECÁRIO EMPREENDEDOR

Fonte: http://revista.acbsc.org.br/index.php/racb/article/view/650/718 (acesso em: 26 de novembro de 2009):

Resumo: Este artigo foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica e tem o
objetivo de apresentar o perfil do bibliotecário empreendedor. Nessa linha, busca
caracterizar o bibliotecário empreendedor, discorrendo sobre a sua atuação em
organizações e como profissional autônomo e empreendedor de seu próprio
negócio. Pode-se constatar que o campo do empreendedorismo nas áreas da
biblioteconomia e da gestão da informação é vasto e que existem inúmeras
oportunidades para os bibliotecários empreenderem. Todavia, são necessárias
mudanças nos perfis desses profissionais, que precisam cada vez mais ter visão
multidisciplinar, agregando continuamente novas competências e habilidades para
que assim estejam aptos a competir no mercado de trabalho.

Palavras-Chave: Biblioteconomia - Empreendedorismo; Biblioteconomia -
Intraempreendedorismo; Bibliotecário empreendedor; Bibliotecário
intraempreendedor.

1 INTRODUÇÃO
Devido à globalização da economia e a concorrência no
sistema de mercado é cada vez mais comum ocorrerem rápidas
transformações em todos os setores da economia. A fim de
acompanhar essas mudanças, as organizações e os profissionais de
todas as áreas precisam continuamente se aperfeiçoar, capacitar e
atualizar para estarem aptos a enfrentar os desafios impostos pela
ordem econômica vigente e garantir a melhoria contínua e sustentada
da competitividade organizacional e profissional, respectivamente.
Apesar dessas contingências, ainda existem culturas
organizacionais tradicionalmente fechadas e centralizadas. Essas
organizações são altamente técnicas, burocráticas e com rotinas
padronizadas. Conseqüentemente, seus profissionais não possuem ou
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não são incentivados a atitudes empreendedoras no sentido de
aumentarem a capacidade organizacional de competir em meio às
freqüentes variações do mercado.
Parafraseando Peter Drucker, as organizações hoje precisam de
“trabalhadores do conhecimento” ou “cérebros-de-obra”. Nesse
contexto também se incluem as unidades de informação, onde ainda
é freqüente ver bibliotecários exercendo somente as atividades
técnicas tradicionais da biblioteconomia. Faltam a essas organizações
práticas empreendedoras de gestão, que permitam aos seus
colaboradores boas iniciativas e o exercício da criatividade para
poderem acompanhar o avanço exponencial do sistema de mercado e
das tecnologias de informação e comunicação e oferecer aos clientes
informações que atendam às suas necessidades e expectativas.
Este artigo, desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica, tem
o objetivo de apresentar o perfil do bibliotecário empreendedor.
Nessa linha, busca-se caracterizar o bibliotecário empreendedor,
discorrendo sobre a sua atuação dentro e fora das mais diversas
organizações e contextos, tendo em vista que “[...] empreender não
significa somente criar novas empresas, significa também colocar em
prática todas as habilidades que um indivíduo possui na realização de
algo novo na organização em que trabalha, tornando-se um
intraempreendedor” (ALVES, 2006, p. 13).

2 EMPREENDEDORISMO E
INTRAEMPREENDEDORISMO
O empreendedorismo, de acordo com a literatura, surgiu no
século XII, na área das Ciências Administrativas, passando a ser um
campo de estudo na década de 80. Nessa época instalava-se um novo
paradigma técnico-econômico: a união de diversos fatores, como em
especial a automação e a grande aplicação do conhecimento aos tipos
de produção, implicaram no aumento da produção e acarretou a
diminuição das vagas de trabalho.
Para uma organização ser considerada empreendedora ela deve
ter: “[...] atitude pró-ativa, objetivos maiores do que o potencial ou
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fontes existentes, cultura do trabalho em equipe, habilidade para
aprender e habilidade para resolver situações problemáticas”
(ULHØI; GLOSIENE apud DALPIAN; FRAGOSO; ROZADOS,
2007, p. 101).
O ato de empreender, segundo Dalpian, Fragoso e Rozados
(2007, p. 2), é apoiado em quatro pilares distintos: “[...] identificar e
avaliar as oportunidades; desenvolver planos de negócio; determinar
recursos necessários e administrar a empresa resultante”. Acerca
disso, Honesko (2002, p. 3) afirma que
[...] o desenvolvimento dos empreendedores parte
do princípio de que os seres humanos são dotados
de uma necessidade de criar algo que jamais
existiu, ou melhorar o que não funciona bem,
podendo tais criações tornarem-se ou não
lucrativas. Isso significa fazer coisas novas ou
desenvolver maneiras novas e diferentes de fazer
as coisas. A atividade de empreender é
representada principalmente pela identificação e
aproveitamento constante de novas
oportunidades. É através de uma idéia que se
visualiza uma oportunidade. E as oportunidades
decorrem das mudanças.
Complementando os autores acima, Malheiros, Ferla e Cunha
(2003, p. 17) dizem que o empreendedorismo não deve ser
considerado um traço de personalidade, ele é um comportamento,
portanto as pessoas podem aprender a se comportar dessa maneira.
A idéia de economia empreendedora começou a se fortalecer
no fim do século XX, fazendo “[...] surgir novas tendências de
trabalho e a valorização do profissional criativo, inovador e capaz de
trabalhar para si mesmo, em pequenos negócios, ou até mesmo no
ambiente de sua própria casa” (CARDOZO E BARBOSA, 2004, p.
3).
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Nesse contexto, as organizações começaram a caminhar para
um modelo baseado no indivíduo gerenciador de sua própria carreira,
sendo empreendedor ou intraempreendedor.
Para Filion (apud Dolabela, 1999, p. 28) “[...] um
empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza
visões”. O ambiente onde nasce e/ou onde trabalha pode ser decisivo
para a formação de um empreendedor, ou seja, a educação, a família
e as convicções pessoais são fatores influenciáveis no
desenvolvimento do perfil empreendedor. Desta maneira, pode
nascer um empreendedor em uma família estruturada, que tem como
prioridades a educação e a cultura (ALVES, 2007).
Segundo Dolabela (1999, p. 28), “[...] o empreendedor é um ser
social, produto do meio em que vive (época e lugar). Se uma pessoa
vive em um ambiente em que ser empreendedor é visto como algo
positivo, então terá motivação para criar o seu próprio negócio”.
Ainda segundo esse autor, o empreendedor é alguém que: (a) busca
realizar seus próprios sonhos, em busca da auto-realização; (b)
acredita que pode convencer pessoas a realizarem seus sonhos; (c)
coloca o destino a seu favor e tem a certeza que faz diferença no
mundo; e (d) não se abate diante dos erros e fracassos, pelo contrário,
aprende com eles.
Dando continuidade, Dolabela (1999, p. 36), no livro Segredo
de Luísa, afirma que não se pode dizer que uma pessoa com as
características acima será um empreendedor de sucesso, mas ela terá
mais chances de ser bem-sucedida do que uma pessoa que não as
detem. Segundo ele, as pesquisas desenvolvidas por Timmons (1994)
e Hornaday (1982) apresentam várias outras características que
podem determinar um empreendedor, como: iniciativa, autonomia,
autoconfiança, otimismo, forte intuição, sonhador, criatividade e
persistência.
Na pesquisa de Timmons (apud DOLABELA, 1999, p. 64), os
empreendedores pesquisados apontaram diversos fatores que podem
levar um empreendedor ao sucesso. Dentre eles destaca-se:
- Faça o que lhe dá energia. Divirta-se.
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- Imagine como fazer funcionar algo.
- Diga “posso fazer”, ao invés de “não posso” ou
talvez.
- Qualquer coisa é possível se você acreditar que
pode fazê-la.
- Seja insatisfeito com o jeito que as coisas estão
e procure melhorá-las.
- Faça as coisas de forma diferente.
- Fazer dinheiro é mais divertido do que gastá-lo.
Todavia, assim como existem fatores que podem levar um
empreendedor a alcançar o sucesso, existem aqueles que podem leválo
ao fracasso, como não mudar suas idéias, fazer mais ao invés de
aprender mais e gastar pouco tempo no diálogo com sócios,
colaboradores e clientes. O empreendedor precisa estar atento às
situações para preparar-se e agir antecipadamente a elas.
Ao se tratar de intraempreendedorismo os pressupostos são os
mesmo, alterando apenas o contexto. De acordo com Uriarte (2000,
p. 48), “[...] o termo intraempreendedor (tradução do Inglês -
intrapreneur) foi cunhado por Gifford Pinchot (1989) para designar o
‘empreendedor interno’”.
Para Pinchott III (apud ALVES, 2006, p. 18) “[...] o
intraempreendedorismo é uma habilidade incentivada nas
organizações com vistas a desencadear inovações aproveitando-se
dos talentos empreendedores dos seus funcionários”. Sendo assim,
[...] o intraempreendedorismo é uma maneira
saudável para reagir aos desafios empresariais.
Grandes empresas estão demonstrando que é
preciso renovar rapidamente para não morrer. No
momento em que a inovação se tornou uma
ferramenta competitiva importante, o profissional
intraempreendedor começou a surgir e percebeuse
conseqüentemente que era preciso dar apoio a
essas pessoas com idéias inovadoras, porque são
elas que possuem as competências
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empreendedoras responsáveis pelas mudanças
(PINCHOTT III apud ALVES, 2006, p. 19).
Alves (2006, p. 18), por sua vez, afirma que “[...]
empreendedores internos são aqueles que possuem liberdade para
inovar ou criar novos produtos, através do incentivo e das
oportunidades dadas pelas empresas em que trabalham”. E acrescenta
que “[...] ser intraempreendedor é ter um comportamento de
inquietação e estar disposto a assumir riscos calculados”.
Segundo Uriarte (2000, p. 61), “[...] acredita-se que o
intraempreendedorismo, assim como o empreendedorismo, pode ser
aprendido, seja por meio de cursos, palestras e seminários, ou com a
prática, por intermédio da experiência de pessoas já
intraempreendedoras”.
O apoio da empresa em que o indivíduo atua é fator essencial,
pois os intraempreendedores “[...] são aqueles que, a partir de uma
idéia, e recebendo a liberdade, incentivo e recursos da empresa onde
trabalham, dedicam-se entusiasticamente em transformá-la em um
produto de sucesso” (URIARTE, 2000, p.48-49). Uriarte acrescenta
que o intraempreendedor mesmo dentro da instituição onde trabalha
pode, “[...] vivenciar as emoções, riscos, e gratificações de uma idéia
transformada em realidade”.
David (2004, p. 45), afirma que os intraempreendedores:
[...] anseiam por liberdade dentro da organização,
são orientados para metas, comprometidos e
automotivados, mas também reagem às
recompensas e ao reconhecimento da empresa.
São indivíduos que “põem a mão na massa” e
fazem o que deve ser feito. Gostam de riscos
moderados, não temem ser demitidos e por isso
vêem pouco risco pessoal. E, principalmente,
fogem do estado estável, detestam as rotinas, pois
são criativos e inovadores.
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Honesko (apud Alves, 2007, p.18), “[...] sugere que qualquer
um pode se tornar uma pessoa inovadora, uma vez que muitos
produtos e serviços inovadores foram criados por indivíduos que
queriam melhorar os seus processos de trabalho”. Dessa forma o
“[...] indivíduo empreendedor dentro de uma organização precisa ter,
acima de tudo, um comportamento de liderança capaz de guiar a
equipe de trabalho na busca de novas idéias”.
Uriarte (2000, p. 61), afirma que:
Todas as pessoas apresentam algumas
características intraempreendedoras em seu perfil
comportamental, basta saber se o número de
características apresentadas é suficiente para o
indivíduo ser considerado um intraempreendedor
de sucesso. Em um futuro próximo, acredita-se
que o indivíduo deverá apresentar um
comportamento intraempreendedor para manter
seu emprego.
Diante disso, torna-se necessário o indivíduo investir em sua
educação continuada, qualificação e aperfeiçoamento constantes para
que possa atuar efetivamente como agente de mudança e inovação e
como parceiro na criação de novas possibilidades para a organização
em que atua. Todavia, a recíproca também é verdadeira. As
organizações hodiernas, para se manterem competitivas, também
precisam investir no seu capital humano para não perdê-lo para a
concorrência.



3 BIBLIOTECÁRIO EMPREENDEDOR E
INTRAEMPREENDEDOR
No sistema econômico emergente concomitante à diminuição
da oferta de empregos para mão-de-obra não-especializada está
ocorrendo o fenômeno da terceirização e dos empregos autônomos.
O bibliotecário que estiver preparado para essas mudanças também
poderá se inserir nesse cenário.
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Locais com documentos desorganizados e com tomadores de
decisão com necessidade de informação são oportunidades de
trabalho para os bibliotecários. Assim, se a demanda do mercado de
trabalho é por profissionais para organizar e recuperar informação de
forma autônoma, o bibliotecário pode terceirizar seu serviço.
Para se tornar um empreendedor, o bibliotecário deve estar
preparado e disposto a enfrentar essas mudanças que vêm ocorrendo
no mercado de trabalho. Todavia, problemas são encontrados na
formação do bibliotecário com o perfil requerido. Um desses
problemas parece ser a atual estrutura dos cursos de biblioteconomia
do país. Segundo Alves (2006, p. 22),
É certo que para haver mudanças é preciso mudar
a formação dos profissionais. A forma como se
ensina precisa acompanhar as mudanças por que
passa a sociedade e dar maior importância à
formação empreendedora, influenciando nas
competências e dando maior capacidade
autônoma aos profissionais da informação.
Segundo resultados de pesquisa realizada por esse autor
envolvendo um grupo de bibliotecários formado pela Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC), verificou-se que os
bibliotecários recém-formados, de maneira geral, não têm perfil
empreendedor e tampouco conhecem o tema empreendedorismo.
Depois de formados, a maioria das atividades desenvolvidas por
esses profissionais é de cunho técnico.
Uma pesquisa realizada por Cardozo e Barbosa (2004) mostrou
que de dez bibliotecários que se consideravam empreendedores, oito
recorreram a cursos, treinamentos, conferências e eventos sobre
legislação para negócios, motivação, informática, leitura de temas
gerenciais, de mercado e de negócios, entre outros, para
desenvolverem as competências e habilidades que são importantes
para a atividade empreendedora. Eles afirmam que os conteúdos
propostos pelo curso de graduação em Biblioteconomia não
abordavam esses temas.
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Segundo as autoras “[...] o bibliotecário-empreendedor deve ser
criativo, flexível, inovador e ter visão do negócio em que atua, além
de estar sempre sensibilizado para a necessidade de atualização
permanente, no que tange ao conhecimento e às técnicas e métodos
de trabalho” (CARDOZO; BARBOSA, 2004, p. 17). Nessa mesma
linha de pensamento Dalpian, Fragoso, Rozados (2007, p. 3)
complementam que “[...] é fundamental agregar-se valor e, de modo
especial, deve-se sempre aprender a aprender, a aprender a
empreender”.
Além do conhecimento técnico o bibliotecário, na atual
conjuntura da sociedade da informação e do conhecimento, precisa
de habilidades e competências empreendedoras. Para Dalpian,
Fragoso e Rozados (2007, p. 5) as competências necessárias, além
das citadas por Cardozo e Barbosa (2004) são: polivalência,
liderança, poder de negociação, excelência na comunicação,
participação em redes além de visão empreendedora.
Valentim (1998, p. 112), por sua vez, afirma que
[...] nestes últimos anos verifica-se um
crescimento na atuação do profissional
bibliotecário, como consultor, assessor,
autônomo, ou mesmo terceirizado. No entanto,
sabe-se que é uma minoria. Neste mercado livre é
necessário um profissional bibliotecário mais
empreendedor, mais ousado. Para o terceiro
milênio o profissional da informação deverá ser
mais observador, empreendedor, atuante, flexível,
dinâmico, ousado, integrador, proativo e
principalmente mais voltado para o futuro. A
formação, portanto, deve estar voltada para a
obtenção de um profissional que atenda essas
características.
No Brasil os serviços mais prestados por bibliotecários
empreendedores que prestam consultoria à outros profissionais e
organizações são: normalização de documentos técnicos e
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científicos, organização de bibliotecas e implantação de centros de
documentação. De acordo com esses empreendedores, as
competências e habilidades mais exigidas deles são: predisposição
para atualização permanente, determinação e conhecimento das
tecnologias da informação. As competências mais mobilizadas para a
prestação desses serviços são: conhecimento da área de atuação,
relacionamento interpessoal, flexibilidade e rigor na qualidade dos
serviços (CARDOZO; BARBOSA, 2004).
Quando Cardozo e Barbosa (2004) perguntaram aos
empreendedores pesquisados sobre a possibilidade de um
bibliotecário empreendedor sobreviver no mercado, obtiveram as
seguintes respostas:
[...] sete responderam que há possibilidade de
viver-se apenas como empreendedor, prestando
serviços na área de biblioteconomia e
documentação. [...] Aqueles que disseram que é
possível sobreviver como bibliotecárioempreendedor,
justificam pela procura constante
de serviços, mas um deles chama a atenção para a
questão da mentalidade do empresariado em
relação à não-valorização dos serviços de
informação. Dois, apesar de ter respondido
afirmativamente, fazem a ressalva de que isto só é
possível se o bibliotecário tiver visão e
competência profissional para realizar os serviços
com qualidade, porque clientes satisfeitos
recomendam seus serviços a outros, propagando
suas atividades.
Além das áreas de atuação do bibliotecário empreendedor
citadas na pesquisa de Cardozo e Barbosa (2004), Baptista (2000, p.
92) sugere algumas áreas organizacionais e recuperacionais da
informação tradicionais e não tradicionais para a atuação do
bibliotecário, como:
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[...] bibliotecas, videotecas, arquivos, editoras,
livrarias, museus, clipping (recortes de jornais
sobre um determinado tema), assessoramento a
profissionais de outras áreas (pesquisadores,
advogados, empresários etc.) realizando tarefas
de busca de informações especializadas, Internet
(organização de conteúdo e recuperação de
informação) e muitas outras.
Pesquisa realizada por Milano (2007), classificou as atividades
biblioteconômicas mais desenvolvidas por empresas de consultoria
em sete categorias:
− Disponibilização informação em qualquer suporte: normalizar
trabalhos técnico-científicos; recuperar informações; localizar
informações.
− Gerenciamento de unidades, redes e sistemas de informação:
projetar unidades, redes e sistemas de informação; automatizar
unidades de informação; implantar unidades, redes e sistemas de
informação.
− Tratamento técnico de recursos informacionais: desenvolver
bases de dados; desenvolver metodologias para geração de
documentos digitais ou eletrônicos.
− Desenvolvimento de recursos informacionais: conservar
acervos; preservar acervos.
− Disseminação da informação: elaborar clipping de
informações.
− Desenvolvimento de estudos e pesquisas: elaborar
diagnósticos de unidades de serviço.
− Desenvolver ações educativas: capacitar o usuário.
A autora concluiu que o bibliotecário que trabalha como
consultor informacional deve evitar sobrecarga e poluição
informacional, e também ter consciência de que uma de suas
obrigações é buscar informações seguras e disponibilizá-las
oportunamente ao usuário. Ela acrescenta ainda, que o serviço de
consultoria é um ótimo negócio para o bibliotecário, pois existem
diversas lacunas nos serviços prestados pelos profissionais da
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informação que podem ser preenchidas por esse profissional. Além
disso, o consultor pode ser um elemento chave para o crescimento
organizacional, pois executa atividades específicas por um período
de tempo pré-estabelecido, evitando assim, gastos fixos para a
organização. Finalizando, Milano (2007) afirma que atualmente o
mercado exige profissionais com diversas competências, habilidades
e que saibam gerenciar e disseminar a informação de forma eficaz e
eficiente.
Acrescente-se que o serviço de consultoria pode ser de grande
importância para as organizações que não têm um bibliotecário entre
seus colaboradores internos para auxiliar os gestores e tomadores de
decisão no planejamento e organização de seus sistemas de
informações gerenciais, por exemplo.
Além das atividades de consultoria tradicionais, como as
identificadas na pesquisa de Milano (2007), Tarapanoff (2000) diz
que surgiu para o bibliotecário uma nova função, conhecida por
information broker. Nessa função, o bibliotecário faz a
intermediação/agenciamento da informação para o cliente,
centrando-se na recuperação, interpretação e disponibilização de
informação com valor agregado às atividades do cliente, seja ele um
indivíduo ou uma organização. Em outras palavras, o information
Broker é um especialista, corretor de informação, que busca oferecer
um serviço que agrega valor à informação disponibilizada, tendo em
vista a competitividade do negócio do cliente, ou seja, melhor
posicionamento no mercado ou lucro para o cliente.
Esse serviço desenvolvido pelo information broker é
denominado brokerage ou “corretagem” de informação. Segundo
Heer (apud MARCHIORI, 1999, p. 165-166),
[...] o serviço de brokerage implica a busca
precisa de informação, na escolha da fonte
apropriada, no oferecimento de informações
complementares e na interpretação e avaliação de
informação para pessoas, grupos e instituições de
qualquer natureza, em que está envolvida uma
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relação de contrato e pagamento por tais
atividades.
Todavia para que o bibliotecário possa realizar o serviço de
brokerage ele necessita desenvolver habilidades de gerenciamento,
marketing e planejamento financeiro, além disso, o broker deve ser
empreendedor e trabalhar muito (MARCHIORI, 1999). Essas
habilidades podem ser buscadas, por exemplo, através de: cursos de
graduação e pós-graduação em biblioteconomia; estágios curriculares
e extracurriculares; cursos de curta duração nas áreas afins dos
clientes-alvo; cursos nas áreas de informação e comunicação e de
tecnologias afins. Assim sendo, para realizar serviços de brokerage o
bibliotecário deve ser capacitado a identificar, coletar, tratar e
disseminar informações internas e externas às organizações que têm
a informação como insumo estratégico tendo em vista às exigências,
necessidades e expectativas da sociedade e a busca de vantagem
competitiva no sistema de mercado.
Mas seria a atividade do information broker um negócio
viável? A respeito Marchiori (1999, p. 155) afirma que a lógica é
simples: “[...] se as pessoas compram carros, geladeiras, alimentos e
outros bens de consumo, elas podem, potencialmente, comprar
informação”.
Caso o bibliotecário não almeje abrir seu próprio negócio, ele
pode canalizar suas habilidades e competências empreendedoras para
dentro da organização em que trabalha. É aí, então, que se tem o
intraempreendedor ou o empreendedor corporativo. De acordo com
Alves (2006, p.18), “[...] o intraempreendedorismo ainda é fator
desconhecido para muitos profissionais e para outros ainda é novo,
em especial para os bibliotecários brasileiros”.
O bibliotecário intraempreendedor é o profissional que aplica o
empreendedorismo em seu local de trabalho. No entanto, para esse
fim, o bibliotecário precisa desenvolver perfil de profissional “[...]
inovador, criativo, líder, negociador, empresário, especialista na
busca diante da explosão da informação e especialista em redes”
(TARAPANOFF apud HONESKO, 2002, p. 5).
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Um dos ambientes propícios para o bibliotecário desenvolver
suas habilidades intraempreendedoras é a biblioteca, todavia, ele não
precisa ficar limitado a ela, pois não é mais raro ver o bibliotecário
atuando em outros tipos de organizações e das mais diversas áreas.
Porém, Honesko (2002, p. 1-2), apresenta uma preocupação:
[...] tendo em vista que o profissional da
informação desenvolve suas atividades em
ambientes que exigem mudanças em seus papéis
tradicionais, algumas atenções são exigidas.
Acredita-se na necessidade de aperfeiçoar suas
habilidades e transformá-lo em um profissional
empreendedor e inovador, preparando-o para este
novo e recente paradigma que o manterá
competitivo no futuro.
A autora enumera dez características empreendedoras de
profissionais da informação: busca de oportunidade e iniciativa;
persistência; riscos calculados exigência de qualidade e eficiência;
comprometimento; busca de informações; estabelecimento de metas;
planejamento e monitoramento sistemáticos; persuasão e rede de
contatos; e independência e autoconfiança.
O intraempreendedorismo nas unidades de informação ou em
outras organizações em que o bibliotecário atua pode contribuir para
uma melhoria dos produtos e serviços informacionais. Como afirma
Honesko (2002, p. 2):
A gestão empreendedora com ênfase na inovação
e criatividade, se adotada pelas bibliotecas,
provavelmente proporcionará a possibilidade da
abertura de novos caminhos e oportunidades para
que os gestores tenham uma ampla visão dos
objetivos corporativos e compreensão do
propósito das atividades e dos serviços que a
biblioteca oferece, tornando-os diferenciados e
relevantes. A efetivação de mudanças nesse
sentido sinaliza a possibilidade de prover os
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usuários com o que lhes falta, antecipando dessa
forma suas necessidades e superando suas
expectativas.
O bibliotecário pode ser intraempreendedor de várias formas,
como:
− Facilitando a comunicação e interação na organização em
que atua, fazendo com que aconteça a união/cooperação entre os
setores;
− Executando suas funções de forma criativa com os,
geralmente, poucos recursos disponíveis;
− Desenvolvendo projetos para captar mais recursos para a
unidade de informação;
− Fazendo estudos, para identificar e conhecer seus clientes
e adequar os produtos e serviços às expectativas e necessidades
deles;
− Disponibilizando informações estratégicas para a
organização em que está inserido, visando facilitar a tomada de
decisão em todos os níveis hierárquicos;
− Antecipando-se às tendências e realizando mudanças nos
produtos e serviços que oferece antes que eles fiquem obsoletos e
caiam em desuso.
Em suma, o bibliotecário para diferenciar-se de outros
profissionais denominados profissionais da informação, precisa
enfatizar a sua capacidade empreendedora encontrando soluções para
os problemas informacionais de indivíduos e organizações,
recuperando e disseminando informações que exibam utilidade,
propriedade e exatidão para suprir as necessidades desses cliente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo enunciado foi apresentar o perfil do bibliotecário
empreendedor. Embora o tema não tenha sido discutido de forma
exaustiva, pode-se constatar que as principais características do perfil
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do bibliotecário empreendedor e/ou intraempreendedor são:
criatividade, flexibilidade, espírito de liderança, competência,
inovação, visão de negócio e boa comunicação. Adicionalmente, o
bibliotecário precisa desenvolver habilidades para lidar com as
tecnologias da informação e comunicação e investir em sua educação
continuada.
O bibliotecário para ser reconhecido e diferenciar-se dos
demais profissionais da informação tem de buscar se distinguir pelo
mérito e valor dos serviços que realiza. Entende-se que o valor de um
serviço de informação depende do grau de necessidade de ele ser
realizado: quanto mais necessário for realizá-lo, maior é seu valor. O
mérito se refere à boa realização do serviço, independente de seu
valor: um serviço é meritório quando faz bem e com eficiência aquilo
que se propõe. Portanto, um serviço de informação pode exibir
mérito, isto é, ser bem executado, porém ter pouco valor, isto é, ser
pouco necessário. Atento a isso, o bibliotecário empreendedor é
aquele que sabe empregar bem os recursos de que dispõe para
atender as necessidades e expectativas de seus clientes, isto é, sendo
eficiente e eficaz.
O campo de trabalho nas áreas da biblioteconomia e da gestão
da informação é vasto e oferece inúmeras oportunidades para os
bibliotecários empreenderem. Entretanto, são necessárias mudanças
no perfil desse profissional, que precisa cada vez mais ter visão
interdisciplinar, agregando continuamente novas competências e
habilidades para poder abraçar essas oportunidades e garantir sua
competitividade no mercado de trabalho. Enfim, o mercado de
trabalho do bibliotecário está em contínua e franca modificação e
expansão devido a fatores do sistema de mercado advindos da
globalização da economia e das tecnologias de informação e
comunicação, e ele precisa estar preparado para ser competitivo
nesse novo contexto.

5 REFERÊNCIAS
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.14, n.1, p.27-46, jan./jun., 2009. 43

ALVES, Luciano Antônio. Empreendedorismo na área de
biblioteconomia: uma análise das atividades profissionais do
bibliotecário formado na UDESC. 2006. 62p. Trabalho de Conclusão
de Curso (Bacharel em Biblioteconomia – Habilitação em Gestão da
Informação) - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
Florianópolis, 2006. Disponível em:
. Acesso em: 27 mar. 2008.
BAPTISTA, Sofia Galvão. Profissional da informação, autônomo ou
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_____
ENTREPRENEUR LIBRARIAN PROFILE
Abstract: This article was developed researching the related literature and intends
to present the profile of the entrepreneur librarian. It also looks for the
characterization of the entrepreneur librarian, talking about their performance in
organizations and as the owner of their own business. It’s noticed that the
entrepreneurship in the areas like library science and information management are
vast and there are many opportunities for librarians undertake. However, some
changes are required in the profile of this kind of professionals, they need to
increase their multidisciplinary vision and continually add new skills and abilities
to be able to compete in the labor market.
Keywords: Library Science – Entrepreneurship; Library Science –
Intrapreneurship; Entrepreneur librarian; Intrapreneur librarian.
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Daiana Lindaura Conti
Acadêmica do Curso de Biblioteconomia – Gestão da Informação da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Estagiária do Arquivo Médico do Hospital de Caridade
Contato: daiconti@hotmail.com
Maria Carolina Carlos Pinto
Acadêmica do Curso de Biblioteconomia – Gestão da Informação da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Pesquisadora da Knowtec
Contato: mcarolinacp@hotmail.com
Delsi Fries Davok
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.14, n.1, p.27-46, jan./jun., 2009. 46

2 comentários:

  1. É isso aí Gil, mais bibliotecários em 2011!!

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  2. O bibliotecário do século XXI tem que ser mil e uma utilidades! rsrs

    Abraço,

    Clotilde

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